Bem, já faz um tempao que estou para escrever sobre um assunto que tem agitado bastante a Belle Province (Québec) nos últimos meses, mas como estamos correndo MUITO com a vida, estivemos sempre meio relaxados com o nosso bloguinho. Mas agora, em vista de estarmos retomando as rédeas e também porque o assunto já chegou no Brasil, resolvi escrever um pouco, resumindo o máximo que puder
Estamos vivendo aqui na província um momento de bastante insatisfaçao com o governo e a situaçao social atual, em vista de diversos fatores, como os respingos da crise dos EUA de 2008, alguns focos de corrupçao detectados no governo, principalmente no setor de construçao, tivemos os movimentos contra o sistema capitalista (occupy), que tiveram um papel importante aqui, e sobretudo a baixa taxa de aprovaçao do atual governo, com uma oposiçao forte, liderada pela sempre presente Pauline Marois, presidente do Parti Québecois, favorável à independência do Québec.
Com todo este contexto, o governo do Québec sinalisou no início do ano que iria diminuir o subsídio dado aos cursos pós-secundários (colleges/CEGEPS e universidades), de modo que os custos para estudar (chamados aqui de "frais d'escolarité") seriam aumentados. Tal notícia foi interpretada pelos estudantes pós-secundaristas e universitários como um repasse do prejuízo pela má administraçao do próprio orçamento do governo, e é claro, ninguém quer se desfazer de um direito, que é o de estudar. Sob muitos protestos, o governo do Québec, liderado pelo primeiro ministro Jean Charest e pela entao ministra da educaçao Line Beauchamp, aprovou o orçamento incluindo a alta nos custos para estudar. Desde entao, os estudantes entraram em greve. Isso mesmo: Aqui nao foram os professores ou os funcionários das universidades que fazem greve por melhores salários. Os alunos simplesmente nao compareceram mais às aulas e já temos vários meses de greve. Até onde eu sei, ainda nao foi decidido se os cursos serao suspensos ou anulados. Porém, jà andei lendo que estao sendo previstos problemas por conta das vagas que deveriam ser abertas para novos alunos entrarem no pós-secundário (como nao houve aulas, nao há aprovaçoes e nao há abertura de vagas). Na outra ponta, o mercado de trabalho nao verá pelo menos 46 mil novos profissionais saindo das universidades e CEGEPs (cursos técnicos de formaçao profissional) por conta da greve. Numa província do tamanho do Québec isso é uma grande diferença.
Mas quando falo de greve, nao é simplesmente ficar em casa. Tenho visto do alto do meu prédio todos os dias milhares de jovens com o retalhinho vermelho preso na lapela, símbolo da insatisfaçao estudandil. Em muitas passeatas, foram reunidos mais de 200 mil pessoas. Vendo a procissao passar de perto, percebe-se que todo mundo está lá para mobilizar a opiniao pública e principalmente o governo. Os estudantes realmente nao estao para brincadeiras. Eles sao liderados principalmente por três grandes organizaçoes estudantis: a FECQ e a FEUQ (federaçao estudante colegial e universitária do Québec, respectivamente) e pela CLASSE (Coalition Large de l’Association pour une solidarité syndicale étudiante), esta última sendo mais associada aos protestos mais exacerbados.
Bem, como em qualquer manifestaçao, existem também incidentes, e muitas pessoas foram presas, outras feridas, muitos prédios foram depredados, chegaram até a parar completamente o metrô com bombas de fumaça (porém, nao foi confirmado que isso estava relacionado aos estudantes)... e à conta disso, o governo Charest baixou um decreto para regular as manifestaçoes. Isso foi chamado de Lei 78. Porém, essa lei foi tao rígida que o próprio ato de protestar acabou virando, de qualquer forma, um ato fora da lei. Isso indignou o resto da populaçao, que acompanhava meio passivamente os estudantes. Agora, todo mundo foi pra rua com as panelas (casseroles) na mao fazendo um barulho danado...
Agora, estamos no final de semana do Grande Prêmio do Canadá, que é aqui em Montréal, e todo mundo está esperando uma grande manifestaçao dos estudantes. Desde sexta-feira, já tivemos de tudo: manifestaçoes de estudantes nus, bateçao de casseroles, roubo de informaçoes dos sites dos organizadores do GP, e para amanha, que é o dia da corrida, só Deus sabe o que vai acontecer. De qualquer modo, a prefeitura de Montréal nao quis saber e botou a polícia na rua... Desde sexta, todas as estaçoes do metrô estao com policiais para evitar quaisquer problemas.
Vamos acompanhar o que vai dar.... a gente percebe aqui que o país está realmente em processo de construçao em todos os aspectos, e esta greve mostra que uma grande transformaçao política e social é necessária e envolve a todos, inclusive a nós, imigrantes, que estamos de certa forma mudando um pouco a cara deste país.
E vamos seguindo, com passos firmes de quem sabe onde quer chegar.
Abraçao e a Paz
Um comentário:
Isso ainda vai dar muito pano pra manga.
E a vida segue...
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