quinta-feira, 21 de julho de 2011

País de Extremos

Gente do céu

Talvez uma vez ou outra quando morei em Foz do Iguaçu ou Joinville eu tenha presenciado algo parecido. Porém, o calor que está fazendo aqui em Montréal é algo que supera todas as expectativas de quem pensa que o país é a gelolândia. O Canicule chegou! Trata-se de alguns dias, normalmente no mês de julho, onde as temperaturas chegam fácil aos 35ºC. Porém, a umidade é tão grande que a sensação térmica chega a 46ºC! Ou seja, derrete tudo. Isso costuma acontecer todo o ano.
Para esta semana, o Environment Canada (instituto de meteorologia e clima local) não quis saber e já emitiu alerta para a nossa região. Todo mundo em casa, na sombra, no ar condicionado, tomando muita água e limitando os exercícios físicos, pelo menos por 2 dias, até que a onda de calor passe....
Então, quando a gente pensa em Montréal, Canadá, etc. Só pensa em neve, né? Mas não é só isso... As Terras do Norte também possuem um calor extremo. Para atacar a onda de calor, a prefeitura da cidade disponibiliza esguichos de água nas principais praças da cidade, onde o povo pode ficar em cima esfriando as idéias, e também as piscinas públicas, onde por 2 dólares você passa o dia inteiro até os dedos murcharem ou parar de sair fumaça das costas... Aqui perto de casa tem uma à duas quadras de distância e a água é limpa e geladinha...
E vamos seguindo com passos firmes de quem sabe onde quer chegar!!!
Abração e a Paz

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Imposto de Renda

Bom dia, pessoal...

Como o Thiago está já cada vez mais acostumado com a vida no além... após o parto... estamos tendo um pouco mais de tempo para colocar em dia assuntos antigos em nosso blog. Uma das coisas que eu gostaria de falar agora é sobre a declaração de imposto de renda aqui no Canadá e no Québec. Eles chamam esta declaração de "Income Tax Return", em inglês. Basicamente, o esquema da declaração funciona como no Brasil, ou seja, é uma declaração de ajuste do imposto que você pagou durante o exercício anterior (normalmente descontado em folha de pagamento), para que o governo possa lhe reembolsar (ou cobrar) algum imposto pago ou deixado de pagar porquê ele próprio (o governo) não tem como saber se você efetuou algum gasto que pode ser deduzido do imposto no período.
Antes de iniciar a discussão, gostaria de deixar claro que não sou um especialista em imposto de renda e, mesmo no Brasil, não conhecia profundamente todas as regras, leis, ou mesmo a forma de efetuar a declaração do imposto. Eu sempre fui auxiliado por meu contador. Então, estou repassando as informações superficiais, conforme meu nível de conhecimento deste processo.
Se você mora na província do Québec, como nós, você tem que fazer 2 declarações: uma para o governo do Canadá e outra para o governo do Québec. As declarações têm que ser entregues até o dia 30 de abril (como no Brasil), sobre os valores do exercício anterior. Por exemplo, este ano de 2011, declaramos sobre o que ganhamos e gastamos em 2010, como no Brasil também.
Quando o ano inicia, já começam os burburinhos sobre declaração de imposto, e todas as lojas de departamentos e supermercados começam a vender programas de computador para fazer a declaração. Ao contrário do Brasil, o governo daqui não fornece um programa para efetuar a declaração e enviar. Você compra no supermercado, escolhe o programa que melhor lhe convier (alguns dizem na caixa: "com otimizador de cálculo para maximizar a sua restituição do imposto!"), faz a declaração e envia.
Um ponto importante para os newcomers (novos imigrantes): a primeira declaração é sempre entregue em papel, pois você ainda não possui acesso aos serviços on-line do governo. Então, mesmo que você compre o programa para efetuar a declaração, você deve imprimir os formulários preenchidos (todos os programas imprimem) e enviar pelo correio ou ir até uma das agências do Revenu Québec (para o Québec) ou Service Canada (para o Federal) e entregar as declarações. Você envia a declaração em um envelope fechado com todos os originais dos comprovantes de pagamentos (invoices) que você declarou como despesas dedutíveis. Normalmente, as empresas mais "dedutíveis" (serviços de saúde privados, imobiliárias, etc) já enviam uma invoice com 2 vias para você enviar uma para o Leão. Entre as despesas dedutíveis, ou que podem gerar crédito de imposto, entram contribuições para o plano de aposentadoria canadense (QPIP), pagamento de transporte público, despesas com atividades físicas de seus filhos, despesas médicas, doações, despesas com educação, etc.
Normalmente, a primeira declaração (a que é enviada no papel) é bem mais demorada do que as outras. Mas quando ela é concluída, você recebe - tanto do governo Federal quanto do Québec - um documento chamado "Notice of Assessment", dizendo que sua declaração foi processada. Com este documento, você finalmente vira gente dentro das repartições da Fazenda canadense, pois ele vem com um número que lhe permite acessar os serviços on-line da receita do Québec (CliqSécur), e quanto ao Federal, aconteceu comigo que eu precisei ligar para o governo para saber como estava o andamento do processo do pagamento de benefícios das crianças, que é feito em nome da mãe, e me disseram que eu não poderia ter informações a não ser que ela me autorizasse. E a autorização é um formulário onde você precisa colocar o número do Notice of Assessment. Então, concluindo, a sua vida de contribuinte só começa mesmo no Canadá depois que você recebe o primeiro Notice of Assessment.
A declaração do imposto aqui no Canadá é também utilizada para a revisão de benefícios que você vem recebendo, como aposentadoria ou os benefícios para as crianças. Então, os valores que você recebe destes benefícios normalmente são alterados após o processamento das declarações.

Um último ponto: o governo do Canadá pede que você informe os rendimentos que você teve no exterior, assim como o governo do Brasil. Então, para evitar a bi-tributação, existe um acordo entre os dois governos, de modo que algumas despesas serão tributadas somente no país de origem. Alguns casos, no entanto são tributadas nos dois países.

Seguem abaixo alguns documentos de referência para o assunto:

E vamos seguindo com passos firmes de quem sabe onde quer chegar!

Abração e a Paz

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dinheiro para as Crianças

Olá, Pessoal
Agora que todos já sabem que temos um filhote, gostaria também de compartilhar algumas outras informações sobre os benefícios que temos recebido do governo do Québec e do Canadá pelas crianças.
  • Child Tax Support: este benefício é pago pelo governo do Canadá. Você recebe um valor como auxílio para criar as crianças. O valor é pago mensalmente e para receber você precisa preencher e enviar os formulários de solicitação, informando sua renda no ano anterior, mesmo que seja no Brasil. Posteriormente, eles vão ajustar o valor conforme a sua primeira declaração de imposto de renda do Canadá, no final de Abril. Os formulários podem ser encontrados no Ministére d'Immigration ou no Service Canada;
  • Soutien aux Enfants: este benefício é pago adicionalmente pelo governo do Québec. O valor é pago a cada 3 meses também conforme a renda declarada. O valor é ajustado posteriormente com a declaração do imposto de renda do Québec. Porém, tem que haver cuidado com isso. Neste ano, por alguma razão, o pessoal do Revenu Québec (ministério da receita do Québec) perdeu a declaração de minha esposa, e eu só fui saber que isso aconteceu quando o cheque dela não veio. Então, tive de ir até o Revenu Québec para resolver isso e praticamente efetuar a entrega da declaração novamente.
  • Congé Parental: trata-se de um direito a folga de trabalho (não-remunerado) para cuidar do novo nenê. Durante as primeiras 52 semanas após o nascimento do bebê, é possível para a mãe e o pai compartilharem algumas semanas juntas. O governo garante que a empresa te manterá no mesmo emprego, com o mesmo salário, e paga até 75% do que você ganha regularmente (conforme a modalidade de licença e o prazo). Eu tirei 7 semanas e gozei 5 logo que o nenê nasceu e outras duas vou gozar quando formos para o Brasil no final do ano. Porém, a qualquer momento, eu posso solicitar mais semanas para o governo do Québec, desde que não passem as 52 semanas após o parto.

Para o novo nenê, quando ele nasceu, já recebemos os formulários do governo do Québec para fazer o registro, e junto com estes formulários, vem também a autorização para que o Directeur de l'Etat Civil do Québec (espécie de Instituto de Identificação) possa encaminhar a certidão de nascimento para o Revenu Québec (para o Soutien aux Enfants), para o Service Canada (para elaborarem o NAS), para a RAMQ (para o seguro-saúde do Québec). Então, quando a gente sai do hospital, quase tudo está resolvido. Mas como os correios estavam de greve até alguns dias atrás, a entrega de documentação está bastante atrasada e muita coisa ainda não chegou para nós. Então, assim que tivermos mais notícias, vamos comunicando....

E continuamos seguindo com passos firmes de quem sabe onde quer chegar (agora, com mais 2 pernas!!!)

Abração e a Paz

domingo, 17 de julho de 2011

Fim da gravidez: nasceu nosso bebê
















Oi gente,

Pode parecer, mas não abandonamos o nosso blog, demos um pequeno tempo, pois nosso pequeno Thiago nasceu e tudo mudou.Não há mais tempo pra nada, sequer conseguimos dormir.

O último post sobre a graidez foi em Abril, onde descrevi alguns atendimentos de emergência que recebi por aqui. Depois daqueles houve vários outros, pois no decorrer deste período fui diagnosticada com uma Síndrome que ocorre em mulheres grávidas cujo o nível de plaquetas despenca, trazendo algumas complicações na gravidez. Diante disso minha obstetra sugeriu, ainda em Abril, que eu consultasse um Hematologista. Fui encaminhada para o especialista do hospital, mas tive que entrar em uma lista de espera, pois eles entenderam que meu caso não era grave.


No período de 1 mês de espera por uma consulta minhas plaquetas caíram pela metade e quando cheguei no Hematologista faltava apenas 5 semanas para meu bebê nascer. Mesmo assim o tratamento foi iniciado na base de medicação, apesasr da obstetra querer eu recebesse plaquetas direto, através de transfusão de sangue. O Hematologista achou desnecessário e preferiu um tratamento menos invasivo. Seguimos este plano, porém não deu certo.

Após 2 semanas de tratamento convencional as plaquetas continuaram a cair, porém agora faltava apenas 3 semanas para o nenê nascer. Nesta altura resolveram me internar e me submeterem a um tratamento de choque (ehehheh): injeção de imunoglobulina direto na veia, que nada mais é que um catalisador de plaquetas. Para isso fiquei internada 3 dias em uma ala só para cuidados de mulheres grávidas.Uma vez por dia era transferida para uma ala isolada onde recebia a transfusã. O que eu não sabia era os efeitos colateraris deste tratamento, que fui descobrir enquanto eles agiam em mim. Durante a transfusão sentia fortes dores de cabeça, pressão alta (nunca tive isso na vida, sempre minha pressão foi super baixa), taquicardia, etc. Depois desses 2 dias voltei pra casa (sexta-feira a noite). Aí começou tudo. No sábado acordei com falta de ar e dores no peito, no decorrer do dia começou uma leve dor de cabeça que foi se agravando até se tornar insuportável. Era a pressão subindo. Para resumir, na madrugada de segunda simplesmente não conseguia ficar deitada de tanta dor de cabeça. O recurso foi voltar para o hospital (recomendação deles antes de termos alta). Chequei no hospital chorando de dor de cabeça, eles me internaram imediatamente. Aí gente, começou o suplício. Simplismente me viraram de cabeça para baixo. Mesmo com o recebimento de 4 frascos de imunoglobulina, minhas plaquetas continuavam caindo. Aí sim os médicos começaram a se estressar, pois o tratamento não estava adiantando e faltava apenas 10 dias para o nascimento do bebê.

Aqueles dias no hospital foram bastante difíceis para mim. A impressão que eu tinha é que eles não sabiam o estavam fazendo. Eu já conhecia todos os médicos, residentes e enfermeiras de todos os plantões. Cada um que vinha me ver pela primeira vez fazia as mesmas perguntas, apesar de terem um dossiê gigante com td que acontecia comigo. Cheguei a conclusão que o dossiê é só para manterem um arquivo, pois não é consultado pelos plantonistas, com excessão das enfermeiras, que aparentemente recebiam o relatório quando mudavam os plantões. Elas são quem verdadeiramente cuidam da gente, sabem o acontece e vivem o dia-a-dia dos pacientes. Sou eternamente grata as enfermeiras do hospital, pelo carinho que a maioria delas (há excessões) tiveram comigo.

Fiz até tomografia computadorizada e raio-X da cabeça para terem certeza que eu não havia sofrido um pequeno aneurisma, tudo para decidirem qual a melhor estratégia diante dos fatos. Enquanto isso eu tirava 4 tubos de sangue cerca de 4 vezes por dia. Tinha soro e medicação nas duas mãos e não tinha mais veia saudável para coleta de sangue. Ao mesmo tempo a obstetra, junto com a hematologista (mudou o médico no meio do caminho) decidiam qual a melhor alternativa de parto. Com as plaquetas baixas eu não poderia ter parto normal com anestesia, porque esta não faria efeito (não sei dizer pq, informação dada pelo médico). Se fosse parto normal teria que ser na raça (coisa que eu acho que não teria, eheheh); Parto de cesária, como estava previsto, teria que ser com anestesia geral, já que anestesia peridural também não faria efeito.

Meu parto estava previsto para o dia 23 de junho, mas com todas estas complicações resolveram adiantar 1 semana e o nenê nasceu no dia 16/06. A escolha para o parto foi cesária com anestesia geral. Para solucionar os possíveis riscos de uma hemorragia durante a cirurgia devido a falta de coagulação por conta do baixo nível de plaquetas, optaram por fazer transfusão de sangue durante o parto. O triste foi que o Igor não pode entrar na sala de cirurgia, então uma enfermeira gravou o momento do nascimento do Thiago.

No final tudo deu certo, após a cirurgia tive um pico de pressão de alta (19/15) que foi imediatamente controlada pelo anestesiologista e enfermeiras. Permaneci no hospital mais 5 dias, mas pelos médicos eu permaneceria lá por mais tempo. Tudo foi negociado, pois eles só queriam me liberar até estar com tudo em dia (plaquetas, pressão, anemia, etc). Acontece que ficar em hospital muito tempo (eu já estava a mais de uma semana, contando o tempo da transfusão da imunoglobulina), não é nada saudável. Além de estar cansada de tanto exame, tanto tirar sangue, estava estressada com os primeiros momentos da amamentação, etc. O que os médicos e enfermeiras não entendiam era que eu não conseguiria voltar em meu estado normal de saúde se não voltasse para minha casa, com meus filhos, Thabata e Matheus (neste tempo ficaram sozinhos, se virando em casa), com minha vida e saísse daquele ambiente hospitalar. Eu já estava exaustada de tudo, me sentia sozinha, longe da minha família, amigos, do meu país. Só queria voltar pra minha casa (estava igual o E.T. - "Minha casa"- era só o que eu falava, eheheh. No final das contas eu já não sabia se todo excesso de zelo no hospital era porque tinham cuidado comigo ou se estavam se prevenindo caso eu tivesse mais complicações, tendo em vista que o tratamento da queda das plaquetas foi iniciado tardiamente e ainda a opção pela transfusão de imunoglobulinas não foi acertada, gerando complicações inesperadas e efeitos colaterais que eu nunca havia tido antes.

Enfim, apesar de eu ter sido bem atendida, tido um tratamento na ala pública melhor que na privada, senti o corpo clínico muitas vezes inseguro, sem saber o que fazer, muitas vezes emperrados por terem que se precaver de suas decisões. Aqui no Canadá os profissionais da área de saúde precisam ter cuidado em suas decisões, pois qualquer erro pode ser usado contra eles. Aqui isso é levado muito a sério. Senti também na troca dos plantões uma falta de sintonia. Na maioria dos atendimentos eram realizados por residentes. A cada mudança repetiá-se as mesmas perguntas, os mesmos exames, eu tinha que repetir toda a balela da minha situação para cada um.

Ontem fez 1 mês que o Thiago nasceu, estamos aqui nos adaptando com a nova rotina. Olho para trás e me vem um grande alívio. Sempre lembro do que minha falecida mãe me dizia quando eu vivia alguma dificuldade: "vai passar minha filha, tenha paciência". Era isso que pensava enquanto vivia aquela realidade no hospital. Pra mim não foi fácil ter um meu bebê longe da família, do meu país, dos médicos em quem confiava, sem o domínio da língua. Senti-me frágil, sem poder ter certeza do que estavam fazendo comigo. Coube a mim ter fé, e tentar encarar tudo com otimismo, sempre tendo em mente que "tudo iria passar". Graças a Deus passou, hoje estou aqui recuperando minha saúde: minhas plaquetas, pressão, nível de ferro, voltaram ao nível normal. Agora irei cuidar do meu peso: ganhei 9 Kg na gravidez, perdi 15 Kg em 1 mês. Como meu metabolismo é muito rápido preciso ficar alerta. Nesta próxima semana irei consultar uma nutricionista para fazer uma dieta de engorda.
Agora somos 5 na família, mais o gato, seguindo nossa vida com passos firmes de quem sabe onde quer chegar.